Tiago Bernardinelli é diretor de Engenharia de Software na Digibee.
A digitalização acelerada colocou as empresas diante de um dilema cada vez mais evidente: como fazer sistemas completamente distintos conversarem sem travar a operação?
Com o avanço das arquiteturas em nuvem e a multiplicação de tecnologias corporativas, a integração deixou de ser uma etapa de bastidor para se tornar infraestrutura crítica.
Nesse contexto, o iPaaS (Integration Platform as a Service) surge como a espinha dorsal da conectividade moderna. Mas escolher uma plataforma não é uma decisão técnica; É, antes de tudo, estratégica.
Durante o Gartner IT Symposium/Xpo™ 2025, foram apontados alguns critérios que devem nortear a decisão de escolha de um iPaaS, que ajudam justamente a separar promessas de soluções realmente preparadas para o futuro.
O primeiro ponto trazido pelo Gartner (e talvez o mais ignorado) é que a escolha de um iPaaS precisa começar pelos casos de uso e não pela ferramenta.
Muitas organizações ainda cometem o erro de priorizar a tecnologia antes de entender a necessidade real do negócio. Pagamentos instantâneos, cadeia logística integrada, processos de transporte de valores, operações multissistema: tudo isso exige clareza de objetivo antes de qualquer seleção de plataforma.
Quando o ponto de partida está nas dores e nos resultados esperados, a integração deixa de ser um projeto pontual e passa a funcionar como alavanca de eficiência.
A partir daí, é inevitável analisar se a plataforma atende apenas uma urgência momentânea ou se realmente sustenta a estratégia de longo prazo.
Uma solução pode até resolver problemas imediatos, mas o verdadeiro valor de um iPaaS está na capacidade de escalar, manter resiliência e acompanhar o crescimento do negócio.
As empresas mais maduras já entenderam que integração não é algo que se “entrega” e se encerra: é um organismo vivo, em constante adaptação.
Essa complexidade se acentua quando observamos o ambiente típico de qualquer empresa. Hoje, todas lidam com uma mistura de sistemas legados, aplicações customizadas e soluções SaaS modernas.
É uma colcha de retalhos tecnológica que só funciona quando existe uma camada capaz de conectar esses elementos de forma fluida, sem comprometer governança ou segurança. É justamente aí que um iPaaS robusto se mostra indispensável.
Outro critério decisivo, mas frequentemente subestimado, é o histórico do fornecedor no setor de atuação da empresa. Finanças, saúde, varejo, manufatura: cada vertical impõe exigências específicas de compliance, latência, disponibilidade e segurança.
Optar por uma plataforma com experiência comprovada no seu segmento não é um bônus; é uma maneira de reduzir riscos, acelerar implantação e garantir que boas práticas já venham embarcadas no processo.
Também entra em cena a questão da localização do ambiente de execução. A forma como as integrações são processadas impacta diretamente a soberania de dados, performance e aderência regulatória.
Modelos flexíveis, que permitem operar em nuvem, on-premises ou em arquiteturas híbridas, oferecem muito mais capacidade de adaptação às realidades e restrições de cada organização. Só percebe a importância disso quem já sofreu com latência, legislação regional ou limitações de infraestrutura.
A Inteligência Artificial, por sua vez, mudou definitivamente o jogo. As plataformas de integração mais modernas já incorporam IA para sugerir mapeamentos, automatizar transformações e otimizar fluxos com base em telemetria.
Essa camada inteligente reduz o esforço operacional e encurta radicalmente o ciclo entre desenvolvimento e entrega de valor. E isso abre portas para um novo patamar de integração: aquele em que a IA não é apenas consumida, mas orquestrada.
Esse último ponto representa a nova fronteira da integração corporativa. As empresas começam a lidar com múltiplos provedores de modelos de IA, diferentes políticas de uso, custos variáveis e resultados heterogêneos.
Governar esse ecossistema exige uma camada operacional que padroniza consumo, controla tokens, monitora custos e garante consistência. É aqui que o iPaaS assume um papel ainda mais estratégico: ele se torna o elo entre os sistemas corporativos e a inteligência artificial, estruturando como o negócio incorpora e escala o uso de IA.
No fim das contas, os critérios do Gartner apontam para uma verdade simples, mas frequentemente negligenciada: integração é a base da operação digital. Não adianta investir em plataformas avançadas, IA generativa ou automações sofisticadas se os sistemas não se conversam.
A escolha de um iPaaS é uma decisão que molda o futuro da organização e deve ser tratada com o mesmo peso das decisões que definem produto, faturamento e estratégia de inovação. Quem entende isso agora assume vantagem. Quem deixa para depois, inevitavelmente, vai pagar mais caro por não ter uma base sólida quando a próxima onda tecnológica chegar.
* Tiago Bernardinelli é diretor de Engenharia de Software na Digibee, lidera uma operação global de engenharia com foco em escala, confiabilidade e aceleração de entrega. Antes do cargo atual, passou por posições de liderança em tecnologia e operações de nuvem em empresas como AWS (Amazon Web Services), Grupo Boticário e Avanade. Ao longo da carreira, acumulou experiência em arquitetura de soluções, engenharia de software e gestão de times multidisciplinares em projetos de alta complexidade.